A ideia de envelhecer não te agradava especialmente. As dificuldades da idade e da artrite irritavam-te. “Avô?! Na! Eu vou ser o tio Rui” depois lá te rendeste e adoravas ser avô do teu netinho.
Mas, apesar disso, gostavas de celebrar. De te rodeares de amigos, fazer uns petiscos, improvisar umas mesas, sempre com (boa) música a acompanhar e juntar a malta. No atelier ou em casa. Sorrisos (uns mais marotos que outros), conversas, bolinhos, pasta de ovos…
Tinhas um espirito jovem. Mesmo quando já não o eras de idade. Construiste uma capoeira (linda por sinal) porque querias ter umas galinhas. Que ainda lá andam, felizes. Sabias?
Tantas coisas. E tantos projetos por finalizar. E até por começar. Tinhas coisas para fazer. Deixaste de dar aulas porque querias pintar! Eras feliz assim. Com as tuas tintas, as tuas telas, a tua música, os teus canários.
Eras um curioso. Lias muito. Pesquisavas. De vez em quando, lá tocava o telefone “ó filhota, ajuda aqui o nabo do teu pai”… às vezes eram telefonemas relâmpago. Só para perguntar uma coisinha. Outras vezes a conversa prolongava-se. E as vezes era eu que ligava “pappi! Preciso da tua ajuda!” Pássaros, plantas, arte, agricultura, cozinha.. valia tudo. Não havia uma hora.. era quando surgia a questão.
Farias 69 este ano. E fazes-me muita falta. O colo, a voz doce com que me chamavas de bebéza, ou filhota, a presença, o ser.
Quando for grande quero ser como tu.
Existes em mim, em tudo o que vejo e sinto. Ensinaste-me a ver beleza onde menos se espera.
Tenho saudades tuas.
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