Bem cedinho, lá para as 7 da matina, sinto duas pesadas patas em cima de mim. Acordo sobressaltada (como devem imaginar), olho para o lado e vejo um monte de pêlo com uma língua cor-de-rosa de fora e duas brilhantes azeitonas a olhar para mim. "Quero fazer xixi" dizem aqueles olhos...Muito a custo, levanto o rabo da cama, abro a porta para a rua e lá vai o Jonas muito depressa fazer as suas necessidades matinais. O ar que corre a essa hora é demasiado frio para mim. Recordo-me que essa é uma das razões porque não gosto de acordar cedo! Mas tem de ser. Ora, quando o Jonas faz o que tem a fazer, apresso-me a chama-lo para poder voltar para a cama, mas porque tem sangue Serra e veio de lá mesmo, aquele arzinho frio para ele é um estimulante. Fica louco de felicidade...Quer brincar. E eu quero dormir! Gera-se um conflito de interesses, que não é fácil de resolver... É que mesmo depois de o conseguir convencer a voltar ao quarto, não é fácil conseguir adormecer quando um cachorro de 3 meses tenta roer tudo o que lhe aparece à frente do nariz...
Finalmente depois de muitos "Não! Jonas Não!" ele cansa-se ou amua e adormece...
Mais 2 horitas de sono...
TRIIIIM! 10 horas! O relógio biológico do Jonas diz que tem de ser...quer comer! O nosso relógio biológico também já se habituou e está mais ou menos sincronizado com o dele...acordamos quase ao mesmo tempo...
Assim que a comida cai na tijela, o Jonas arrebita as orelhitas... se eu páro com a tijela na mão, ele já sabe que tem de se sentar. Já era assim ao 3º dia...é esperto o piqueno. Pouso a tijela no chão, e não dura 1 minuto a refeição! Já está. Agora, para a rua fazer as necessidades. Isso é certinho como ele se chamar Jonas. E depois....brincadeira..

Meia hora depois, começa a deitar-se pelos cantos...com sono... Pois. Agora tem sono, só de manhãzinha é que não tem! Passa o dia nisto... Brinca um pouco e depois dorme, e sonha, e ressona.
Vou ao café e ele fica em casa. Já fez asneiras, mas agora porta-se bem. Refila quando vou a sair. Ladra, e empina-se na porta...Do outro lado vejo as patas dele no vidro. É grande o rapazola...
Quando regresso, faz uma enorme festa. Fica feliz por eu ter regressado. Dá beijos e mais beijos...tenta mordiscar. "Não morde Jonas". Mais beijos...
Lá para as 6 da tarde começa a olhar para o saco da ração, a ver se eu me engano nas horas e lhe dou mais cedinho... Não resulta, dorme mais um pouco..
Depois de comer, começa a verdadeira hora da loucura. Agarra-se a um bocado de ganga que lhe arranjei para brincar, e corre para cá, corre para lá, roi uma folhinha, roi uma raiz que cai mesmo a jeito do canteiro, roi a toalha que lhe dei para dormir, tenta roer o vaso com o loureiro que trouxe da Assafora, ouve um não, mas como bom Serra que é, faz-se de surdo... (muitas vezes).
Depois dorme mais um bocado.
Durante o dia as portas estão abertas para o quintal. Ele passa quase todo o dia dentro de casa. É mais fresco. Lá fora está sol e calor.
Mais para a noite, chega o dono. Faz uma grande festa, e começa a loucura da noite...
A esta hora, ele gosta muito de estar na rua. Nós vamos ver televisão, e ele fica na rua. De vez em quando aparece na sala, tenta subir ao sofá e dar beijos, e morder a roupa e as orelhas, e desafiar. Quanto mais nós dizemos que não, mais ele insiste. Até que leva um "Não" já com uma boa dose de irritação e amua.
Pára. Adormece. Sonha. Muito.
Chega a hora de ir dormir. É preciso pôr o farrusco a fazer xixi, senão "dá bota". Ele está podre de sono. Quase que é preciso segurar nas patas, senão ele senta-se logo. "Vai fazer xixi" repetimos nós. Até que ele se decide, e faz. Mas aquele arzinho frio da noite, tem o mesmo efeito que de manhã. Ele arrebita. Ora bolas.
"Vamos para a cama" e lá vai ele escada acima, direitinho a tudo o que encontra no quarto, de preferência o nosso corpinho, para ver se pode brincar mais um pouco. "Jonas não". Vem para perto de mim, e tento dar-lhe festas, no lombo, nas orelhinhas, que eles adoram e ficam quietinhos... só preciso que ele se deite com estas festas...depois tenho que o ignorar.
E ele acaba por adormecer.
E eu também. Amanhã, tudo outra vez.